Até onde podemos ir, quão próximo conseguimos chegar?
Nota da Direção Artística
Gostamos que o Alkantara Festival seja um espaço de encontros. Um festival de espetáculos, performances e festas, sim, e de conversas que promovem mais conversas. Um espaço para estar próximo, de outras pessoas e de outras ideias. Um espaço de encantamento ou inquietação, que nos faça chegar a outros pontos de vista, que mexam com as nossas certezas.
Por vezes, há algo num espetáculo que ressoa de imediato em nós. Conheço isto. A montanha russa das alterações hormonais ao longo da vida. Ler a Antígona. Partilhar uma feijoada com pessoas amigas. Programamos alguns espetáculos a imaginar que outras pessoas também poderiam estremecer – ou arrepiar – de identificação.
Quão próximo conseguimos chegar?
Há também espetáculos que nos fizeram vibrar pela razão oposta. Não conheço isto. Amazónia. Abidjan. A perspetiva vivida de um ator negro sobre o racismo em Portugal. E também aqui nos sentimos estremecer – e sim, também, arrepiar – ao presenciar ou aprender algo para lá dos limites da nossa experiência pessoal.
Até onde podemos ir?
Como cada pessoa tem a sua coleção pessoal de estremecimentos e arrepios, o que uma pessoa vê de perto, outra vê com a distância da curiosidade. Vamos tão longe e chegamos tão próximo como as nossas próprias experiências e histórias permitem. Gostamos que o Alkantara Festival seja um espaço de encontro de experiências e histórias. Neste lugar que será próximo para algumas pessoas e longe para outras, reconhecer que algumas coisas permanecem distantes ou incompreensíveis será o início de uma conversa interessante, não o fim.
É nesta tensão e nesta complexidade que queremos estar, no lugar onde identificamos os limites de até onde podemos ir e de quão próximo podemos chegar.
Esperamos encontrar-vos no Alkantara Festival, de 10 a 26 de novembro.
Carla Nobre Sousa & David Cabecinha
Direção artística do Alkantara
2.10.2023