Aoaní Salvaterra e Joyce Souza

Em yoruba Orí significa cabeça. Mais do que uma parte fisiologicamente estruturada, o Orí é um orixá, um deus, uma divindade pessoal e intransferível. É Orí que irá acompanhar o indivíduo antes de seu nascimento até depois de sua morte. Orí foi uma escolha feita por cada um antes de nascer, e uma escolha que continuamente se faz, ou não.

No ocidente nos ensinam que a cabeça é uma parte do corpo. Uma parte que abriga o cérebro, que tem uma estrutura composta de ossos, músculos, terminações nervosas. Uma parte que abriga o sistema nervoso. A noção de parte, de desmembramento proposta por lógicas coloniais se espelham no corpo - cidade. O lapso enquanto instituição, a memória estrategicamente fragmentada, o violento soterramento é o palco desse cistema brancae - Lisboa. É de terra que Orí é feito. Bater a cabeça na terra, no chão é (em tradições de matriz africana, ressignificadas na diáspora) o gesto, a ação, de máximo respeito e reverência.

O ato primeiro antes da gira, da festa, do movimento, do revide. Esta vídeo performance é um prólogo. Nela batemos cabeça para quem veio antes, pedimos licença. Colocamos nosso Orí e coração sobre as histórias soterradas, como uma cerimónia aos que perderam a cabeça. Interrompemos a lógica do que eles chamam “tempo”, conectamos. Perturbamos o esquecimento como aqueles que não baixaram a cabeça. Reverenciamos quem aqui resistiu e resiste, no desejo de uma libertação súbita de energia que provoque movimentos nessa superfície.

Aoaní Salvaterra e Joyce Souza

Kabeça é um dos espetáculos selecionados na Open Call do programa Kilombo.

Ficha Artistica

Criação e performance Aoaní Salvaterra e Joyce Souza Direção de Fotografia Huba Artes, Indira Mateta e Pedro Henrique Sousa Imagens drone Huba Artes Fotografia Still Indira Mateta Apoio à dramaturgia Monalisa Silva Música Xullaji Som Sara Marita Iluminação Ariene Godoy Edição e montagem Victor dos Santos Tradução e legendagem English For Success Produção Ngleva Produções