52blue de Francisco Thiago Cavalcanti
Uma produção Alkantara
Uma baleia solitária denominada 52blue deambula no oceano enquanto canta uma música. Uma música acompanhada por uma paisagem sonora fantasma. Como suportar a vida sem a presença do outro, da outra, de outrem?
Quando as baleias cantam, cantam para sobreviver, para acasalar, para viajar, para passar o tempo e também para nada. A 52blue, uma espécie "especial" de baleia emite um som de 52 hertz, é um som muito agudo e ninguém suporta ficar em sua companhia. Os seres humanos: o que faz com que as pessoas se afastem umas das outras e não suportem conviver? Nós sabemos, não é? E cantar... Você canta só no chuveiro? Cantar pode ser um pedido de socorro. Relaxamento. Tesão.
Essa performance é feita por um corpo que dança e por outro corpo que toca. De forma solitária. Os dois são essa baleia que jamais poderia viver entre nós, pois não cabe nessa existência. É inadequada. É uma baleia grande, azul, sozinha, cantando um som que não pode ser ouvido.
É triste. É belo. É música que faz chorar.
— Francisco Thiago Cavalcanti
Depois de ter sido um dos projetos selecionados para fazer parte do In Ex(ile) Lab, 52blue é agora uma produção do Alkantara. O solo de dança de Francisco Thiago Cavalcanti já contou com uma anteestreia, no Festival de Santarcangelo 2024, por onde passou depois de uma residência artística no centro de criação La Caldera, em Barcelona.
A estreia de 52blue está marcada para o dia 23 de novembro, no Teatro do Bairro Alto, no âmbito do Alkantara Festival 2024.
Ficha Artística
Performance, criação e direção Francisco Thiago Cavalcanti Colaboração dramatúrgica e assistência de direção Piero Ramella Olhar externo António Pocinho Rivotti Mentoria Ntando Cele e Nadia Beugré Desenho de luz e direção técnica A definir Paisagem sonora Gustavo Portela Vídeo Gustavo Portela/Varanda Criativa Fotografia Jamille Queiroz Preparação de voz e corpo António Pocinho Rivotti Produção executiva Sinara Suzin (Alkantara) Produção Alkantara Coprodução Alkantara Apoio Alkantara, In Ex(ile) Lab - Creative Europe, Santarcangelo Festival/European Festivals Fund For Emerging Artists, La Caldera e Teatro da Voz/Real Pelágio Residências artísticas Fórum Dança, Alkantara, Teatro da Voz, Santarcagelo Dei Teatri, La Caldera, Porto Iracema das Artes e Companhia Anagoor/La Conigliera
Uma cartinha de motivação
Pessoas que vão ler isso...
Tenho a sensação que todos os trabalhos que faço ou que vou fazer já existem em minha cabeça ou estão pairando no universo. Acredito que nós buscamos as coisas e as coisas buscam a gente.
Tenho obsessão por baleia desde criança. Assisti ao filme Tubarão do Spielberg e tinha pavor desse peixe sanguinário, o mar era misterioso pra mim. Pelas baleias eu tinha fascínio. Que som é esse que elas produzem? Por que elas cantam? Por que sinto vontade de chorar ou dormir quando escuto isso? As baleias frequentavam meus sonhos. Descobri que as baleias Jubarte migram para o litoral da Bahia para se acasalar. Queria muito ir em Abrolhos na época das baleias, mas nunca tive dinheiro pra isso. A Lia Rodrigues, coreógrafa com quem eu trabalhava no Brasil, esteve em uma reserva ecológica na Colômbia onde ela me disse que quando, pertinho da praia, mergulhava no mar, ouvia o canto das baleias. Fiquei louco!
Às vezes penso que baleia não existe, é como dinossauro ou é um devaneio coletivo. Morando no Rio, uma vez tinha uma baleia encalhada em Ipanema, eu soube e fui lá ver, mas foi horrível, a baleia estava em decomposição e parecia um grande fígado. Não valeu.
Morando em Portugal, tão longe dos meus, decidi fazer uma peça sobre grandes viagens, grandes migrações. Com insônia, tinham duas coisas que me faziam dormir: som de baleia no youtube e um disco calminho da Gal, voz aguda, doce e aconchegante. Eu tenho o espectro do autismo (leve), uma das coisas que me desestabilizam é o som muito alto da sirenes, o toque da sola e do salto de alguns sapatos, o apito de aviso de fechar portas do metrô. A voz da Gal e o som das baleias são um abraço para mim.
Em janeiro de 2023 fiz uma residência de criação da minha nova peça chamada Cantar, em um evento do coreógrafo João Fiadeiro, chamado A pele nômada - 30 anos LAB/Projectos em Movimento. Essa ocasião foi o ponto de partida para eu desenvolver minha pesquisa sobre baleias, migrações, Gal Costa, refugiados, sonhadores, utópicos, piratas, paisagens sonoras, 100 maneiras de deslocar-se no espaço. Fiquei com o desejo também de "performar" sozinho. Pensar no me autismo, na minha solidão e na minha inadequação. Um trabalho sozinho com um músico massa, chamado 52blue ou 52hertz.
52 hertz é uma frequência sonora absurdamente alta, feita por uma baleia azul que vive solitária no oceano; o som é tão agudo que ninguém consegue ficar perto. Como performar isso? O que isso tem a ver com saudade, falta, solidão?
Esse trabalho foi aprovado pelo projeto In Ex(ile) Lab e terá a produção do Alkantara para que eu possa desenvolvê-lo durante os anos de 2023/24. Eu estou muito feliz de poder estar existindo com os projetos que tenho criado, idealizado, imaginado... Nunca sozinho.
Artista da dança, do teatro e da performance, brasileiro, queer, neurodiverso, não-branco. Vive em Portugal onde fundou o coletivo multidisciplinar, independente e transfronteiriço um cavalo disse mamãe, em parceria com Piero Ramella (IT), Bárbara Cordeiro (PT) e Francisca Pinto (PT). Bacharel em Dança, mestre em Educação — Inclusão, Ética e Interculturalidade e doutorando em Literatura e Culturas Modernas. No Brasil trabalhou sete anos com a coreógrafa Lia Rodrigues. A sua pesquisa pessoal gira em torno do teatro físico, da dança-teatro e da dança...
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