Tiran Willemse
blackmilk
- 15.11 — 16.11 2025
- Espetáculos / Performances
- Carpintarias de São Lázaro
- 5€
- M/6
- 1H10
A “melancolia masculina negra” como alternativa à cultura de imagens estereotipadas.
blackmilk, solo de e com Tiran Willemse, funde os movimentos coreografados das trompoppies — majoretes africânderes em uniforme — com os gestos melodramáticos das estrelas femininas brancas e a expressividade física dos ícones do rap negro e masculino. A partir deste repertório de formas corporais mainstream — ora rígidas, ora exuberantes, ora sensuais — blackmilk intervém na representação de masculinidades negras, confrontando estereótipos e propondo zonas de ambiguidade.
Num ambiente sonoro intenso, entre o rap e o pop, Willemse mergulha nas zonas cinzentas da identidade — onde os corpos escapam às categorias visíveis — e dá forma a uma sensibilidade a que chama “melancolia masculina negra”: um estado com mais possibilidades e multiplicidade, onde convivem força e vulnerabilidade, disciplina e excesso.
blackmilk é a primeira parte de uma investigação coreográfica e política sobre afeto, disciplina, performatividade e identidade.
Nota de Tiran Willemse
O meu percurso artístico tem sido marcado por uma exploração contínua da hibridez, da identidade e da memória incorporada. Venho de uma formação em ballet clássico e das minhas raízes africanas, e tenho vindo a criar trabalhos que atravessam as tensões e os diálogos entre estes dois mundos. A minha prática vive na fricção entre forma e ausência de forma, entre o peso da história e a intuição pessoal.
Blackmilk nasce de uma necessidade urgente de questionar as estruturas herdadas que moldam a forma como os corpos são vistos, disciplinados e lembrados em cena. Esta peça é uma escavação física e sonora, um desfazer ritualizado dos códigos estéticos ocidentais, enquanto carrego esses mesmos códigos dentro de mim, códigos que continuam a ser importantes para criar arte onde o corpo resiste à legibilidade e escapa para a opacidade. Trata-se de fluidez, luto e transformação. Neste trabalho, usei repetição, resistência e fragmentação para entrar num estado de devir, recusando o fecho de uma identidade fixa.
Mais do que sublinhar diferenças, interessa-me aproximar técnicas, culturas e pessoas, criando espaços onde possam emergir sensibilidades, gestos e ressonâncias partilhadas. Interessa-me menos reforçar binarismos culturais e mais perceber o que nos liga: a forma como um ritmo pulsa em corpos diferentes, como um gesto transporta significado entre contextos, como a presença se sente para lá da linguagem. O meu objetivo é cultivar um sentido de proximidade e reconhecimento entre intérpretes e públicos, uma compreensão incorporada que atravessa fronteiras e categorias.
Olhando para o futuro, quero continuar a expandir esta prática convidando outros intérpretes para o espaço, não apenas para executar movimento, mas para entrar num processo de investigação partilhado. Interessa-me criar ambientes onde os corpos possam escutar-se, onde a presença seja tão importante como a performance, e onde o estúdio se torne um lugar de pesquisa e vulnerabilidade. O meu desejo é criar um espaço onde a técnica não seja sobre perfeição, mas sobre atenção, onde os corpos estão afinados uns pelos outros, onde a forma é viva e responsiva, e onde o público se sente convidado para a intimidade do processo.
Ficha Artística
Conceito, direção artística, performance Tiran Willemse Desenho de luz Fudetani Ryoya Música Manuel Riegler Figurino LML studio Berlin Produção Paelden Tamnyen, Rabea Grand Produção em digressão Eva Cabañas Distribuição Tristan Barani Coprodução Sophiensaele Berlin, Tanzquartier Wien, Gessnerallee Zürich, WP Zimmer Antwerp Apoio residências Tanzhaus Zurich, Buda Kortrijk, Les Urbaines Lausanne, Impulstanz Vienna, Trauma Bar e Kino Berlin
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O bailarino e coreógrafo sul-africano Tiran Willemse, residente em Zurique, estudou na P.A.R.T.S em Bruxelas e na Universidade de Artes de Berna (HKB). A sua prática baseada na performance explora a profundidade física e emocional do corpo, utilizando técnicas sonoras e visuais para criar paisagens somáticas e psicológicas além da condição humana. Tiran trabalhou e colaborou com coreógrafos como Trajal Harrell, Jérôme Bel, Wu-Tsang, Ligia Lewis, Meg Stuart, Andros Zins-Browne, Eszter Salamon e Deborah Hay. Em 2022, ganhou o Prix Suisse de la Performance.





