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Dança sem Idade

    Até que idade se pode dançar?


    Dança Sem Idade centra-se na questão da idade e do envelhecimento, seja no plano da dança seja num âmbito mais geral no seio da sociedade. A articulação das suas diferentes actividades visa contribuir para a desconfirmação de ideias pré-estabelecidas e ainda pouco contrariadas quanto à idade até à qual se pode dançar, e das expectativas por parte do público quando confrontado com um corpo fora destes parâmetros convencionados.


    A normatividade inscrita na dança ocidental atinge as pessoas que, alcançados os 40 anos, se vêem consideradas como idosas, vivendo a discriminação. Ao invés, há que considerar a diferença abissal entre o Ocidente e outras culturas, como é o caso do Japão, onde o avançar na idade é encarado com respeito e admiração, sendo considerado que é então que artistas atingem o seu fulgor e excelência. Tornar presentes estas questões permite que a partir deste aspecto particular se estimule um olhar mais amplo sobre o corpo e o indivíduo na sociedade, desconstruindo parâmetros de exclusão que abrangem tantos segmentos da população.


    A emergência sanitária do Covid19 subverteu o nosso quotidiano e as pessoas idosas, já frequentemente vítimas de condições de marginalização, contam-se entre as mais afectadas pela pandemia, no seu estado de saúde e obrigando um grande número à solidão. O mundo vive hoje uma profunda preocupação com o presente convulsivo e o futuro incerto. No entanto, não queremos esquecer o quanto este mesmo mundo tem sido, por sua vez, uma causa de exclusão para os corpos e todas as subjectividades que não estão em conformidade com os cânones de uma suposta normalidade, de beleza e de eficiência, como no caso das pessoas idosas - o que é transversal à classe de intérpretes de dança.


    O termo idadismo foi adoptado na língua portuguesa, numa tradução directa do ageism que foi cunhado por Robert Neil Butler em 1969, para designar o estereotipar e/ou discriminação contra indivíduos ou grupos com base na sua idade. Numa parceria entre o Alkantara Festival e a EIRA, o programa Dança sem Idade quer promover a reflexão sobre o idadismo, em particular na esfera da dança, e contribuir para as ações para se lhe opor. Simultaneamente, é um testemunho do desejo de um futuro em que todas as particularidades tenham espaço de expressão.


    O projeto coloca em diálogo profissionais da dança com mais de 40 anos e figuras académicas, de vários países, reivindicando espaço e visibilidade para corpos menos jovens e já não no fulgor da exuberância física, mas que com toda a sua experiência e inteligência motora acumuladas podem ainda interpelar e conquistar os públicos.


    Contemplam-se três dias de práticas artísticas, abertos à participação de profissionais da dança com mais de 40 anos. Em cada dia, haverá uma proposta diferente de trabalho liderada por artistas com linguagens e práticas diferenciadas entre si, como são Nacera Belaza, Ali Chahrour e Francisco Camacho. Esta diversidade contribuirá para a activação e reciclagem artísticas destes participantes. No plano da reflexão teórica, promove-se um simpósio com figuras relevantes da investigação académica desenvolvida neste campo, no âmbito internacional, assim como uma conversa após a apresentação de VELHⒶS, com o seu coreógrafo Francisco Camacho e a coreógrafa e investigadora Susanne Martin, num diálogo sobre as suas práticas e perspectivas artísticas, com a moderação da jornalista e ativista cultural Carla Fernandes. VELHⒶS reúne um grupo de profissionais que já dobraram os 50 anos, com a música ao vivo de Sérgio Pelágio, e contando com a generosa participação de habitantes lisboetas com ainda mais idade.

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